30 de julho de 2009

A tenda dos milagres


Os amigos que navegam pelo Dois Rios já devem ter percebido um quase nada de escritos de minha autoria. Um dia venço o bloqueio e, quem sabe, abro as minhas comportas e deixo as palavras fluirem. Por enquanto deixo aqui uns versos que fiz no auge de uma intensa angústia pela espera do resultado de um exame que, graças Deus, saiu tudo bem.


Pede como puderes e souberes
Pede com o olhar ou com
um mero pensar.

Pede com as palavras silenciadas
com os acordes das músicas entoadas
ou nos teus ditos de poetizar.

Pede do jeito que quiseres
com os dedos entrelaçados
ou os joelhos dobrados
sob um ipê desflorado.

Pede no tragar de uma cerveja
a cada baforar de uma incerteza
ou nos aromas de uma tarde de vinho
servido na taça de uma chuva cristalina.

Pede pelo desatar dos meus nós
pela existência de uma estrela guia
que te aponte a evidência
do meu continuar.

Pede em todos os sinônimos
que couberem nas tuas súplicas
em todas as crenças e convicções
de que fores capaz
mas pede por mim.

Há de haver por entre céus mares e rios
alguém que acolherá o teu pedir.

24/10/2008
Imagem: Christian Schmidt/zefa/Corbis

26 de julho de 2009

Reinscrição desenhada


Nem sempre as poesias que posto no Dois Rios têm a ver com o que estou passando ou sentido. Muitas vezes posto uma poesia pela sua beleza intrínseca, ou então porque me toca, ou porque, de um certa forma, me identifico com as palavras do poeta. Outras vezes, como hoje, sinto que, se poeta fosse, teria escrito sem mudar uma vírgula sequer, todos esses versos. Amanhã, certamente, não me apetecerá a exatidão dos traços e nem a previsibilidade dos fatos. Mas hoje sim, me cairia muito bem uma ampla parede branca .



Dêem-me uma parede branca!
Quero reescrever-me
desde o início
Quero-me noutra história
em que eu invente o princípio
sem deixar nada ao acaso
Quero saber o que faço
e para quê
Quero ser dono do tempo, do espaço
desenhar as personagens
a cruzar no meu caminho

Quero ser o narrador
o dono, rei e senhor
de uma vida desenhada
a régua e esquadro
por - para - mim

Rui de Morais
(Ver InVerso)
Caminhante

Imagem: Inês/Dois Rios
(Hatillo-Ve)

 

9 de julho de 2009

A seca dos rios


Sem palavras, ainda que sejam as dos poetas. Sem idéias para harmonizar poemas e imagens, e sem um nada de ânimo para promover pesquisas, deixo a vocês, em retribuição aos carinhosos comentários deixados no post anterior, a lua que ontem debruçou-se na minha janela.

Até breve!
Inês
Imagem: Inês/Dois Rios

1 de julho de 2009

Existíamos



 










Enquanto nos abraçávamos,
existíamos antes, durante e
depois do futuro.

José Luís Peixoto
A Mulher de Negro


Imagem: Tomek Sikora/zefa/Corbis