25 de agosto de 2011

Quando cada instante é sempre


Google Imagens
(desconheço a autoria)



É por isso que te escrevo. Não há morte, nesta carta. Mas há uma despedida que é um pequeno modo de morrer. Lembras-te como dizia Zacaria? "Tive as minhas mortes, felizmente, todas elas passageiras." A minha única morte foi a de Marcelo. Essa, sim, foi o primeiro desfecho definitivo. Não sei se Marcelo foi o amor da minha vida. Mas foi uma vida inteira de amor. Quem ama, ama para sempre. Nunca faças nada para sempre. Exceto amar.

Antes do Nascer do Mundo


Título do post: Chico Buarque - "Sempre".



20 de agosto de 2011

O nó era fraco




Eu me arrebentei, assim, porque o nó era fraco. Frouxo. Mal dado. Eu afundei, em segundos, porque no meu casco havia um buraco milimétrico por onde o mar entrou, aos poucos. Inteiro. Eu caí com o primeiro vento porque não havia tijolos. Eu era construção mal feita. Erguida na pressa. Madeira com pregos mal batidos. Fachada. Eu derreti ao sol porque era de plástico. Sumi no sopro porque era pó. Eu me quebrei na primeira queda porque, por dentro, não havia mais nada. eu me sentia forte, sem saber que já era oco.


 
Eduardo Baszczyn

Coisas da Gaveta
 
Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e
ninguém suspeitar dos traumas, das quedas,
dos medos, dos choros.

 

15 de agosto de 2011

A memória da pele

Maxu



Acabei hoje o sabonete cujo uso iniciaste aquando
o teu último banho cá em casa. Ficaram coisas que
te pertencem e que não sei se deva guardar,
a saber: um candeeiro, um desenho, uma fotografia.
Outras coisas ficaram
alguns discos e já não sei que livro. Não ferem
Tanto.
Há ainda a memória da pele, o amarelo dos olhos e
algumas expressões do teu português falado.
Mas estas últimas já se confundem com o
espírito da casa, quero dizer-te com a poeira da casa.
  


A Jornada de Cristóvão de Távora. Primeira Parte
 


10 de agosto de 2011

Das lembranças

EmeraldEl / Devianart




Quando a gente gosta, a gente começa emprestando um livro, depois um casaco, um guarda-chuva,  até que somos mais emprestados do que devolvidos. 
 Gostar é não devolver, é se endividar de lembranças. 






1 de agosto de 2011

A luz que me desenha

Flickr/jdcow


Vem de antes do sol
A luz que em tua pupila me desenha.
Aceito amar-me assim
Refletida no olhar com que me vês
.

Balé 


E a minha alma tem agora amplas
janelas, viradas a sul, com vista
para o lago dos teus olhos.


Inês Pedrosa
Fica Comigo Esta Noite