23 de junho de 2008

Apesar de tudo...


  













Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio.
...
Resta essa imobilidade
essa economia de gestos
essa inércia cada vez maior diante do infinito.
...
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é.
...
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

Vinícius de Moraes
O Haver


Imagem: Volkmar Brockhaus/zefa/Corbis

2 comentários:

Anônimo disse...

Boa noite...aqui estou...deixando-me navegar nestes rios...
Obrigada por passar por lá e deixar
comentário.


"Resta esse diálogo cotidiano com a morte
esse fascínio pelo momento a vir, quando, emocionada,
ela virá me abrir a porta como uma velha amante
sem saber que é a minha mais nova namorada."
Vinicius de Moraes


zana

Regular Joe disse...

Inês(quecível), saio deste texto (lindo,ou melhor, maravilhoso) com a sensação de que o que resta é a essência do ser-humano, o que somos, ou aquilo em que nos tornaremos (Píndaro).
Como é bom visitar você, querida!
Beijos, muitos!