29 de agosto de 2009
O que sou
No seu corpo aprendi a saborear o desejo infinito,
o desejo como experiência da eternidade.
Para essa experiência não tenho palavras.
Nem sequer silêncio. Dessa experiência,
sobrou-me o que sou.
Inês Pedrosa
A Eternidade e o Desejo (excerto)
15 de agosto de 2009
Se não chover vira sertão
É preciso chorar.
As lágrimas são a chuva da gente,
nuvens do nosso tempo íntimo
precisam desabar.
É preciso chorar,
Lágrimas são os rios do ser,
as cachoeiras da gente,
mudam nosso tempo simples,
atualizam o nosso mar.
É preciso chorar,
é preciso à natureza copiar,
é preciso aliviar e molhar
a seca do coração.
Se não chover vira sertão,
morre homem, morre gado,
morre plantação.
Elisa Lucinda
Mar Adentro / Fúria da Beleza
Imagem: Rui Molefa
12 de agosto de 2009
Pedaços de mim
Mia Couto
Raiz de Orvalho e Outros Poemas
Para Daniel e Papai, com amor.
Pelo dia de hoje e por todos os amanhãs.
Imagem: Fatima Condeço
10 de agosto de 2009
Para atravessar agosto
Para
atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a
vida não deu, ou ele partiu sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália
Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o
seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites
de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto
do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros,
juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E
beijos, muitos. Bem molhados. Não lembrar dos que se foram, não desejar o que
não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se, e temperar tudo
isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína,
se a barra pesar, vinhos, conhaques – tudo isso ajuda a atravessar agosto.
6 de agosto de 2009
Sobre o amor
O verdadeiro amor é suicida. O amor, para atingir a ignição máxima, a entrega total, deve estar condenado: a consciência da precariedade da relação possibilita mergulhar nela de corpo e alma, vivê-la enquanto morre e morrê-la enquanto vive, como numa desvairada montanha-russa, até que, de repente, acaba. E é necessário que acabe como começou, de golpe, cortado rente na carne, entre soluços, querendo e não querendo que acabe, pois o espírito humano não suporta tanta realidade, como falou um poeta maior. E enxugados os olhos, aberta a janela, lá estão as mesmas nuvens rolando lentas e sem barulho pelo céu deserto de anjos. (excerto)
Ferreira Gullar
Imagem: Tom Marks/Corbis
2 de agosto de 2009
O outro lado da palavra
Preciso do teu silêncio
cúmplice sobre minhas falhas.
Não fale.
Um sopro, a menor vogal pode me desamparar.
E se eu abrir a boca minha alma vai rachar.
O silêncio, aprendo, pode construir. É um modo
denso/tenso - de coexistir.
Calar, às vezes, é fina forma de amar.
Affonso Romano de Sant'Anna
Silêncio Amoroso
Google Imagens
(desconheço a autoria da imagem)
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