25 de junho de 2008

A outra face


 












Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

Ferreira Gullar 

Traduzir-se

Google Imagens
(desconheço a autoria)

2 comentários:

Anônimo disse...

Saywa:Você já escutou à Fagner pondo música nesta linda poesia!Maravilhoso!Vale à pena escutá-la!Não sei como ele consegue por música sem mudar uma vírgula da poesia, que além do mais, é linda! Beijos pela fidelidade de manter a beleza do blog, ainda saindo para dar uma voltinha na terra de Gardel.Volte logo para a felicidade dos seus visitantes constantes!

Borboleta disse...

Isto é maravilhoso. Seu blog é encantador. Só a essência.
Beijos, beijos de coração