29 de dezembro de 2009

Canção de fim de ano


Uma vez mais se constrói
a aérea casa da esperança
nela reluzem alfaias
de sonho e de amor: aliança.


Carlos Drummond de Andrade
Poemas de Dezembro



Aos queridos amigos que sempre deixam pairando no ar dos meus rios a suave
fragância do afeto, desejo que
, em tempo algum, deixem de escutar a
alentadora canção da esperança. Muito obrigada por suas
sempre leais e indispensáveis presenças.

Tão doce, tão cedo, tão já, tudo de novo vira começo.
Paulo Leminski

Feliz 2010!



Imagem: Hiroshi Watanabe/Getty Images



21 de dezembro de 2009

Poema de Natal

















Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Po
r isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.


Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia

Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.


Vinícius de Moraes



Aos que partiram mas ficaram. Aos presentes, ainda que ausentes.
Aos ausentes sempre muito presentes, e a todos os amigos que navegaram
pelo
s meus rios
ao longo desse ano e que deixaram, num eterno flutuar,

as mais suaves e delicadas expressões de carinho..



Imagem: Zoe/Corbis


18 de dezembro de 2009

Para que sejamos necessários



















Transfere de ti para mim essa dor
de cabeça, esse desejo, essa violência.
Que careça em ti o meu excesso
e que me falte o que tu tens de sobra.


Que em mim perdure o que te morre cedo
e que te permaneça o que tenho perdido.
Que cresça, se desenvolva um teu sentido
que em mim desapareça.


Dá-me o que de possuir tu não te importas
e eu multiplico o que te falta e em mim existe

para que nosso encaixe forme uma unidade -indivisível-
que não se possa subtrair uma metade.


Bruna Lombardi
No Ritmo Dessa Festa
 



Selo oferecido pelo Leonel do blog
Passando a Limpo o Passado



14 de dezembro de 2009

Tecidos



Como as pessoas, cada tecido tem as suas próprias vantagens e limitações. Alguns são finos e lindos, mas frágeis que se rasgam ao mínimo picote. Outros têm a trama tão cerrada que nem dá para ver as fibras. Há ainda os que são grossos, encorpados, chegando até a arranhar. Impossível mudar o caráter de um tecido. Ele pode ser cortado, rasgado, cozido, para se transformar em vestidos, calças, ou toalhas de mesa, mas seja qual for o feitio que assuma, o pano continuará sempre o mesmo. A sua verdadeira natureza não se altera, qualquer boa costureira sabe disso.

Frances de Pontes Peebles
A Costureira e o Cangaceiro

Tal qual uma boa costureira, a vida se encarrega de reconhecer e revelar
a natureza do tecido
que nos reveste, seja qual for o feitio que assumamos.

Imagem: Tooga/Getty Images

11 de dezembro de 2009

Vida
















Pois aqui está a minha vida.
Pronta para ser usada.
Vida que não guarda
nem se esquiva, assustada.
Vida sempre a serviço
da vida.
Para servir ao que vale
a pena e o preço do amor

Ainda que o gesto me doa,
não encolho a mão: avanço
levando um ramo de sol.
Mesmo enrolada de pó,
dentro da noite mais fria,
a vida que vai comigo
é fogo:
está sempre acesa.

Thiago de Mello  
A vida verdadeira

Imagem: Paulo Medeiros/Olhares

Selo oferecido pelo Ely
do blog
Bobeiras em Ger
al




9 de dezembro de 2009

Para sempre é sempre por um triz


Grove Pashley/Getty Images



E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.


Miguel Sousa Tavares
(Jornalista e escritor português, a respeito da morte de sua mãe,
a poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen)





3 de dezembro de 2009

O medo



O medo, essa força misteriosa que nos rouba a alegria e o sonho, devia vir no dicionário como antónimo de vontade. O medo é como um terreno minado; nunca o atravessamos mesmo que do outro lado estejam todos os nossos desejos.

Margarida Rebelo Pinto

Diário da tua ausência


Imagem: Martin Barraud/Getty Images