E se te transformasses em pássaro? Eu tranformava-me em céu, um vasto céu azul, com nuvens de fogo nas pontas e sulcos de pétalas no centro; um fulgurante azul celeste criado só para ver todo o fascínio do teu irromper.
E se te transformasses em água? Eu transformava-me em fonte, ou talvez numa nascente, que a ânsia de ver-te inundasse e nas paisagens que te vou escrevendo a minha sede abrandasse.
E se te transformasses em estrela? Uma imponente estrela de espuma com brilho de lava e gestos de vento? Eu transformava-me em sombra, uma sombra incandescente, onde tu: pássaro, água ou estrela, pudesses andar e na varanda de minha espera, devagarinho, viesses pousar.
Desde que aportei pela primeira vez no blogA Dispersa Palavra,há quase um ano, tenhovontade de publicaruma poesia do meu amigo Victor (Oliveira Mateus),um poeta de versos exatos e peculiar sutileza.Pediautorização, ele meacenou comumafetuoso "sim"e aqui, nas margens dos meus rios, compartilho com vocês a beleza de um de seus poemas.
Em quem pensar, agora, senão em ti?
Tu, que me esvaziaste de coisas incertas,
e trouxeste a manhã da minha noite. ...
ensinaste-mea sermos dois;
e a ser contigo aquilo que sou,até
sermos um apenas no amor que nos une, contra a solidão que nos divide.
ontem chorei. por tudo que fomos. por tudo o que não conseguimos ser. por tudo que se perdeu. por termos nos perdido. pelo que queríamos que fosse e não foi. pela renúncia. por valores não dados. por erros cometidos. acertos não comemorados. palavras dissipadas. versos brancos. chorei pela guerra cotidiana. pelas tentativas de sobrevivência. pelos apelos de paz não atendidos. pelo amor derramado. pelo amor ofendido e aprisionado. pelo amor perdido. pelo amor. pelo respeito empoeirado em cima da estante. pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda-roupa. pelos sonhos desafinados. estremecidos. adiados. pela culpa. toda a culpa. minha. sua. nossa culpa. por tudo que foi. e foi. e voou. e não volta mais pois que hoje é já outro dia. chorei. eu chorei. apronto agora os meus pés na estrada. ponho-me a caminhar sob sol e vento. eles secam as lágrimas. vou ali ser feliz e já volto.
Queres saber quem sou?
Eu sou o que te olha e espia para te recolher
e depois guardar num lugar que é só meu. ...
Eu sou o que mergulha as mãos na tua vida
para sentir a minha voltar.